quarta-feira, 4 de maio de 2011

Estudo revela que gestão hospitalar pública e privada brasileira não são muito diferentes



O professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Bernard Francois Couttolenc apresentou, na quarta-feira, 29 de outubro, os principais resultados consolidados no livro 'Desempenho Hospitalar no Brasil: em busca da excelência' no Centro de Estudos da ENSP - de mesmo nome. Em nove capítulos, o livro retrata a situação da rede hospitalar no país, seja ela pública ou privada, e traz algumas recomendações para melhorar essa gestão.

Ao iniciar sua exposição, Bernard Couttolenc revelou que a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca teve papel importante no livro, uma vez que dois pesquisadores da ENSP participaram do grupo responsável pela pesquisa - Nilson do Rosário Costa e José Mendes Ribeiro -, e que teve como coordenador principal Jerry La Forgia. O expositor revelou que o contexto do livro foi decidido devido a chamada 'saúde em crise' brasileira, uma vez que os indicadores de saúde no país apresentam apenas níveis razoáveis. "O livro tem, entre outros objetivos, contribuir para o desenvolvimento de uma estratégia nacional de melhoria da qualidade e eficiência hospitalar", citou. O pesquisador explicou ainda que os hospitais brasileiros têm 2/3 de seus investimentos alocados nos serviços e isso é o principal gerador de impacto na rede, além do fato de que nos últimos anos houve um fortalecimento da atenção básica no país, deixando de lado o financiamento hospitalar.

Segundo dados levantados pelo estudo, o gasto total em saúde no Brasil, no ano de 2006, foi de 198 bilhões de reais, sendo que o gasto hospitalar representou a maior parte, aproximadamente 67% desse valor. "Um dado interessante é que o gasto hospitalar no SUS é maior do que no setor privado e fomos averiguar o motivo disso", ressaltou. Uma das questões apontadas é de que 30% das internações realizadas não requerem cuidados hospitalares, representando um custo de 10 bilhões de reais para o país, muitas vezes ocorridas na rede pública. Outro dado interessante apontado é que o financiamento do setor hospitalar é 58% público, enquanto que as fontes privadas são responsáveis por 42%. "Desse total privado, o gasto direto realizado pelas famílias nos hospitais ainda é alto no país, correspondendo a 8,5% desse total", afirmou.


Para entender melhor como se dá o gasto hospitalar por elemento de despesa, a pesquisa descobriu que 64% dos recursos são destinados a pagamento de mão de obra, com uma crescente terceirização (12% desse total), enquanto que materiais médicos representam 24% e os serviços ficam em 11% dos investimentos. Já com relação ao gasto em por tipo de serviço, 64% corresponde às internações, 23% para o atendimento de emergência e ambulatório e 13% em administração.

Bernard informou também que a eficiência hospitalar está ligada ao tamanho dos hospital, e que os hospitais federais são os menos eficientes enquanto que os mais eficientes são aqueles privados e/ou lucrativos. "60% dos hospitais brasileiros com menos de 50 leitos são os mais ineficientes, até por conta dos padrões econômicos, não permitindo que os serviços sejam qualificados", destacou. A pesquisa abordou ainda a taxa média de ocupação dos leitos hospitalares, revelando que 2/3 dos leitos SUS não precisariam existir. "Essa é uma conclusão simplista, uma vez que apenas 37% dos leitos SUS são utilizados no país, enquanto que a taxa média de ocupação dos países desenvolvidos gira em torno de 70 a 75%", afirmou. O livro apresenta ainda informações sobre a utilização das salas de cirurgia, composição do quadro de recursos humanos dos hospitais, comprovando que a ineficiência e a falta de controle sobre os cursos geral grandes variações no valor final dos procedimentos hospitalares. "Na verdade, 95% dos hospitais brasileiros não sabem quanto custa os serviços que produz", informou.

Entre as conclusões apontadas no livro está o fato da baixa governança dos hospitais públicos, com pouca autonomia e responsabilização dos gestores, com mecanismos de financiamento sem relação com os custos e não focados no desempenho. Por fim, Bernard apresentou algumas recomendações trazidas pelo grupo organizador da publicação como a necessidade de aprofundamento do uso dos fluxos financeiros para promover a eficiência, o controle de custos e a qualidade no serviço, o fortalecimento do ambiente institucional para o uso eficiente de recursos e de uma gestão voltada para o desempenho, além da necessidade de uma ampla modernização gerencial nos hospitais públicos e privados.

Fonte: Informe ENSP

Nenhum comentário:

Postar um comentário